O lado sombrio da força


O bem e o mal estão mais uma vez em luta na interminável série de sucessos de bilheteria que é Star Wars. Por que essa guerra nas estrelas faz tanto sucesso? Será que é porque há algo do universo humano que sua trama é capaz de captar?

Certamente sim, assim como qualquer grande sucesso de bilheteria ou de aclamação popular sob a forma de audiência ou de alto índice de likes e compartilhamentos.

Nos concentremos em um elemento essencial a essa trama e vejamos o que de mais caro do universo humano ali está presente. Star Wars é uma obra de ficção que contém em si uma metafísica na forma de uma visão de mundo mística e secular: há a luz e a sombra. Os dois lados da força!

Quem não ficou intrigado com o parricídio cometido pelo neto de Darth Vader, que acabou por incorporar suas insígnias de vilão? O jovem filho de Han Solo e da princesa Léia foi seduzido pelo lado sombrio da força e lá se abrigou. Mas o que mesmo o teria seduzido?

Suspeito que o jovem, sobrinho do herói Luke, não quis esperar a morte natural do tio para poder empunhar um sabre de luz. Não podendo empunhar o azul, o que defende a luz, o bom lado da força, motivado por inveja e ganância, se voltou para o lado sombrio da força e passou a ser aquele que porta o sabre vermelho, tão poderoso quanto o azul.

O modo como o filho de Han Solo se voltou para o lado sombrio da força não nos é mostrado, por isso precisamos especular. O que nos é mostrado é um parricídio repugnante. Um filho que mata o pai de uma forma traidora, covarde e vil. Isso faz parte da construção de um vilão. Talvez esse jovem vilão consiga provocar tantas emoções como Darth Vader foi capaz de fazer. Mas por que precisamos de vilões? Por que o mal precisa combater o bem em igualdade de forças, mesmo que no final ele acabe sendo derrotado? Por que o parricídio é algo tão repugnante? Por que é preciso deixar o mal escondido, nas sombras e deixar o bem iluminado, visível (na luz!)?

O vocabulário da trama se modificou um pouco pela questão do politicamente correto, mas a dicotomia permanece: o lado mau, antigamente chamado de negro, é chamado de sombrio. Algo que precisa ser escondido, tapado. Assim como o próprio rosto do vilão, que acaba recebendo uma máscara. Será que não há um lado sombrio em todos nós que precisamos esconder de nós mesmos? Parece que a trama dessa guerra nas estrelas faz tanto sucesso por encenar uma trama interna que todos nós vivenciamos desde muito cedo em nossas vidas. Por mais que tenhamos alguma raiva ou ódio de um ente querido, somos estimulados a esconder esses sentimentos hostis e transformá-los em sentimentos benevolentes. Fazer preponderar o bem, e deixá-lo visível, escondendo todo o mal parece ser a regra principal que a sociedade nos impõe. Isso por certo demanda um trabalho interno, quase uma guerra. Por vezes nos deparamos com um ou outro efeito colateral dessa guerra, mas não vamos falar aqui de culpa ou de depressão. Basta destacar que o sucesso das telas de cinema conta uma história muito antiga vivida dentro de todos nós.